Idosos Continuam A Ser Vítimas De Violência

Idosos Continuam A Ser Vítimas De Violência

Numa altura em que tanto se fala de violência contra as mulheres, crianças, idosos ou minorias, a Sensicare convidou Micaela Jorge, Comissária e Conselheira para a Igualdade da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, a falar-nos sobre esta temática.

Saiba como identificar vítimas em perigo e como agir, de acordo com a psicóloga da autarquia pacense.

"Quando se fala em violência, é possível que nos venham primeiramente à ideia imagens de agressões contra as mulheres ou abusos sexuais por serem flagelos que, efetivamente, têm tido um grande impacto negativo e uma grande abordagem nos dias de hoje.

Mas a realidade é que não podemos descurar a violência contra os idosos. Ainda que menos falado, é necessário que não se coloque para trás das costas este tipo de crime. Um crime na maioria das vezes silencioso, um crime que passa despercebido.

Na verdade, a violência contra os idosos aumentou mais de 30% nos últimos anos.

Ainda que os dados relativos a este tipo de crime sejam pouco divulgados, e ainda que pouco se aborde este tema, são cada vez mais os casos em que se verifica a existência de violência contra a geração mais velha.

Os últimos dados conhecidos são da Associação de Apoio à Vítima (APAV), que fazem referência às cerca de 5683 pessoas idosas que foram apoiadas entre 2013 e 2017, das quais 4556, a maioria, foi vítima de crimes e de violência.

Segundo o mesmo relatório, a maioria das vítimas era mulher; em 37,4% dos casos, as vítimas eram a mãe ou o pai do agressor; em 27,6% das situações, o agressor era cônjuge.

Para a Organização Mundial de Saúde, o possível aumento destes números está associado a uma certa quebra de laços entre as gerações e ao enfraquecimento dos sistemas de proteção social, que podem agravar as situações de violência.

É essencial que se reflita sobre esta realidade penosa.

Não são apenas os membros da família que cometem estes crimes contra a população idosa: este problema ultrapassa as portas da residência.

Basta ser-se idoso para se estar vulnerável.

Os idosos são vistos como o alvo mais fácil para o crime. Não que estejam mais sujeitos ao crime do que qualquer outra pessoa, mas é um dos grupos etários em que a insegurança é mais elevada.

Em todo o mundo, as pessoas idosas são tragicamente sujeitas a abusos psicológicos, financeiros ou físicos, e atitudes preconceituosas contribuem para este problema. Alguns crimes, como burlas e roubo por esticão, parecem especialmente direcionados para as pessoas idosas.

Hoje, devemos reexaminar as nossas atitudes em relação ao envelhecimento e ao estatuto e papel das pessoas idosas. O combate eficaz deste flagelo contribuirá para um futuro mais inclusivo! E é por isto que tem de se pôr termo à violação constante dos direitos das pessoas idosas, quer a nível da sua autonomia, quer na sua capacidade de decisão.

É crucial a realização de um trabalho articulado entre as várias entidades da justiça, saúde e segurança social e as organizações/instituições que apoiam estas vítimas.

É importante também relembrar que a ajuda dos amigos, dos familiares e até dos vizinhos pode ser crucial para que a pessoa idosa fale, se exponha e peça ajuda para tentar sair da situação de violência em que vive e com que tem de lidar na maioria das vezes sozinha e em silêncio. É esse mesmo silêncio que facilita a existência e a continuação da violência.

Não compactue. Sabe que até de forma anónima poderá denunciar?

Se sentir que está a ser vítima, se assistir ou ouvir, denuncie.

E é sempre aconselhável a tomada de algumas medidas de prevenção, tais como:

- Depositar a sua pensão de imediato, se possível;

- Na rua, evitar o uso de mala, mas sim de carteira de bolso;

- Convidar os amigos a visitá-lo/a ou visitar com frequência, para se manter acompanhado/a;

- Participar nas atividades da sua região;

- Não divulgar os seus contactos pessoais;

- Não ter vergonha e conversar com alguém de confiança sobre o assunto;

- Ao assinar papéis, ler primeiro e em caso de dúvida, pedir aconselhamento a alguém de confiança;

- Gritar por ajuda, se for vítima;

- Não abrir a porta a pessoas desconhecidas;

- Manter um telefone perto de si;

- Pedir ajuda ao seu médico de família, à Polícia, ao Gabinete de Apoio à Vítima da APAV mais próximo, à Linha Nacional de Emergência Social, ao Magistrado do Ministério Público junto do tribunal, à Junta de Freguesia, à Câmara Municipal, aos cuidadores (por exemplo, apoio domiciliário);

 

Contactos úteis de Apoio à pessoa idosa:

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima – 116 006

Linha Nacional de Emergência Social – 144

Guarda Nacional Republicana – contacte o posto da área da sua residência."

Micaela Jorge - Comissária e Conselheira para a Igualdade

 

Este texto foi editado apenas por questões de legibilidade