Como lidar com a morte e com o envelhecimento

Como lidar com a morte e com o envelhecimento

Aceitar a perda e preparar o luto ajuda a lidar com a morte de forma serena e com saúde emocional. 

A morte é uma certeza nas nossas vidas, assim como o luto que a acompanha. Quer se trate de enfrentar a nossa própria mortalidade ou a perda de um ente querido, lidar com a morte é um desafio para o qual nem sempre estamos preparados.  

Isto reveste-se de importância com a realidade de envelhecer com saúde e o aumento da longevidade. Parece paradoxal mas, ao vivermos mais anos, experienciamos também mais doenças crónicas ou terminais, e enfrentamos mais mortes 

Embora a morte seja uma parte natural da vida, isso não significa que não sejamos afetados por ela – e a exposição à morte de familiares e amigos, cada vez mais comum na terceira idade, é uma das razões pelas quais a depressão é frequente em pessoas idosas. 

Aceitar a morte como uma certeza, contudo, significa que podemos ser proativos, preparando-nos para lidar com a morte com serenidade e saúde emocional. Não podemos prever como viveremos o luto, mas equiparmo-nos para cuidar da saúde mental e estabelecer uma rede de apoio são bons pontos de partida. 

 

Como sentimos a morte? 

 

Algumas pessoas parecem estar, por natureza, mais em paz com a morte, seja esta prematura ou após uma longa vida. Outras, no entanto, independentemente da sua idade, têm mais dificuldade em enfrentar a ideia de morrer. 

Esta diferença de atitudes depende de vários fatorescultura, espiritualidade e religiosidade, e da forma como as pessoas à nossa volta percecionam e reagem à dor. As experiências da morte ao longo da vida também moldam a nossa atitude. 

Quando falamos em lidar com a morte, referimo-nos também a aspetos que vão além da experiência emocional: elementos espirituais ou existenciais e, também, os aspetos físicos da morte. Cada um destes elementos requer uma abordagem distinta que nos ajude a viver um luto saudável. 

 

Aspetos físicos 

 

A forma como o nosso corpo experiencia a mortalidade dependerá sempre da causa – uma doença prolongada, que requer cuidados paliativos, é sempre diferente de um problema súbito ou de um acidente inesperado. Igualmente, varia também com a experiência da dor ou de outros sintomas, assim como com as mudanças na aparência do próprio corpo.

As etapas do processo fisiológico da morte são consistentesseja de forma mais lenta ou repentina, certos sistemas do corpo deixam de funcionar, até que cessem todas as funções vitais (incluindo a atividade cerebral, o fluxo sanguíneo e a respiração). É claro que esse processo pode ser inteiramente imprevisível, como no caso de um acidente de automóvel fatal com lesões nos órgãos vitais, ou pode ser antecipável, como no caso de uma doença terminal, em que os sistemas de órgãos do corpo se desligam lentamente, o permitindo também outro tipo de preparação emocional. 

 

Cuidados em fim de vida 

 

É crucial abordar a dor física e o desconforto associados à morte. As conversas sobre os cuidados de fim de vida podem ser difíceis, mas é importante estarmos preparados para discutir as preferências de cada pessoa antes de chegar o momento.

Nos casos de doença prolongada com dor associada, os cuidados paliativos ajudam a manter confortável a pessoa que está a morrer, através da administração de medicamentos que diminuem a dor e reduzem a ansiedade, a par de outros métodos não farmacológicos que respondem às necessidades individuais. As intervenções escolhidas, e a decisão de as prolongar no tempo, dependem das preferências expressas pela pessoa afetada, informadas pelas recomendações dos médicos que supervisionam os cuidados de fim de vida.

Para o cuidador, prestar cuidados físicos a um ente querido que está a morrer pode também representar uma sobrecarga física e emocional. O recurso a um enfermeiro de cuidados paliativos, com experiência nestas situações, pode ser um apoio importante para a família. 

 

Aspetos emocionais 

 

A forma como sentimos a morteseja a de uma pessoa querida ou a consciência da nossa própria mortalidade – é sempre única, moldada pelas nossas experiências e crenças individuais. No entanto, alguns sentimentos comuns que tendemos a experienciar no processo de morte. As fases estabelecidas do luto são frequentemente referenciadas, embora nem sempre sejam vividas na mesma ordem ou com a mesma intensidadepodemos encará-las como um guia não-linear. As emoções específicas associadas ao processo de luto são geralmente aceites como incluindo negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação. Cada pessoa pode vivê-las em ordens diferentes ou passar mais ou menos tempo em cada fase. 

 

  • Negação: a fase inicial e imediata do luto, em que alguém luta ou se recusa a aceitar que a morte está próxima. Por vezes, envolve um esforço para evitar a realidade da situação ou para discutir o tema com entes queridos ou médicos. 

  • Raiva: nesta fase, alguém sente que não está preparado para morrer ou que não o “merece”, manifestando este sentimento internamente, ao evitar o contacto com os outros, ou externamente, descarregando nas pessoas à sua volta, incluindo em amigos, familiares e até médicos e enfermeiros. 

  • Negociação: na negociação, são comuns as afirmações que começam com “Se ao menos...”. Estas podem referir-se ao que alguém deseja poder mudar no passado (“Se ao menos não tivesse começado a fumar...”) ou ao que lamenta perder (“Se eu pudesse ver os meus netos crescerem...”). No caso de pessoas religiosas, podem fazer promessas a um poder superior para que lhes salve a vida, em troca de orações e compromissos. 

  • Depressão: ao lidar com a morte de um ente querido, a depressão é uma experiência comum de luto como reação à perda; alternativamente, quando uma pessoa se encontra em processo de morte, o luto torna-se preventivo, lamentando a perda da vida, da independência e da identidade. 

  • Aceitação: é a fase final do luto, habitualmente descrita como o momento em que a pessoa encontrapaz” com a ideia da morte; isto não significa que seja uma fase fácil de atravessar, ou que não seja possível voltar a fases anteriores. 

 

Ao longo deste processo, ter uma rede de apoio de familiares e amigos pode ser uma fonte de orientação e conforto. Procurar ajuda profissional também é útil para enfrentar uma perda ou um diagnóstico terminal. Dependendo do perfil de cada pessoa, o aconselhamento no luto, os grupos de apoio e até a orientação religiosa podem ser um auxílio valioso para processar e lidar com o luto. 

 

Mudanças Sociais 

 

Outra experiência emocional ligada à morte é a chamadamorte social”, que pode começar muito antes de alguém experienciar quaisquer sinais físicos de morte iminente. Refere-se ao impacto que um diagnóstico terminal pode ter na vida social da pessoa afetada. Em casos de doença, a pessoa pode ser forçada a abandonar o trabalho ou a escola, perdendo ligações com colegas. Pode também isolar-se de amigos e família por iniciativa própria, tornando-se mais introspectiva enquanto tentanegociar” com a sua morte iminente. É igualmente possível que esse isolamento parta das outras pessoas, que não sabem bem como agir ou o que dizer, e que procuram evitar uma situação que também as faz confrontar-se com a sua própria mortalidade.

Mais uma vez, ter uma rede ampla de apoio comunitário faz a diferença. Os habitantes de zonas rurais, ou que vivem mais longe das suas famílias, têm uma vulnerabilidade acrescida por não terem tantos recursos sociais e frequentemente não conseguirem viajar para junto dos seus entes queridos. Da mesma forma, as pessoas que vivem em instituições de cuidados prolongados e lares de idosos podem até ter os seus cuidados básicos assegurados, mas podem sofrer "morte social" durante anos se raramente tiverem visitas. Se estiver a cuidar de alguém que está a morrer, lembre-se de que o apoio social é uma parte importante do cuidado ao longo de todo o processo. 

 

Stress no cuidador 

 

Quem cuida também está exposto a uma grande vulnerabilidade emocional. Cuidar de um ente querido em situação terminal, além da tristeza evidente de antecipar a sua perda, pode também reavivar memórias e mágoas de outras mortes de pessoas próximas. Ao mesmo tempo, pode ser avassalador ter de lidar com estes sentimentos enquanto se é constantemente relembrado da própria mortalidade.

Os cuidadores devem priorizar o seu próprio bem-estar, no meio das exigências de cuidar de um ente querido que está a morrer. Só estando emocional e fisicamente bem é que terão a energia, força, concentração e paciência necessárias para responder às necessidades da pessoa cuidada. Caso o cuidador se sinta sobrecarregado, é importante não hesitar em pedir ajuda. 

 

Aspetos Espirituais e Existenciais 

 

As necessidades religiosas e espirituais ao longo do processo de morte serão sempre únicas para cada pessoa. É comum, no entanto, que mesmo pessoas sem ligação à religião ou à espiritualidade possam reavaliar essa ligação quando confrontadas com a morte, à medida que refletem mais profundamente sobre estas questões. Qualquer mudança, trauma ou experiência de morte pode suscitar estas reflexões, em alguns casos provocando mesmo as chamadas crises existenciais.

Estas experiências são naturais no processo de morte e luto, mas podem ser angustiantes. As pessoas afetadas podem passar muito tempo a refletir sobre decisões tomadas ao longo da vida, questionando as suas escolhas, lidando com sentimentos de culpa e pensando no que virá depois. Dependendo das crenças de cada um, é possível que a pessoa deseje assistir a mais cultos religiosos ou ser visitada por um líder espiritual que lhe proporcione orientação e conforto. O fenómeno oposto também ocorre: pessoas religiosas que, atravessando uma fase de raiva pela sua morte, podem sentir-se distantes da ideia de justiça divina e afastar-se da prática espiritual ou religiosa. 

 

Aspetos práticos 

 

Embora possa não ser o mais importante na mente de alguém, abordar os aspetos práticos da morte e do luto é uma parte fundamental do processo. Discutir os planos de fim de vida, testamentos e arranjos funerários são questões que podem ser resolvidas com antecedência, através de uma conversa aberta entre entes queridos e, se necessário, recorrendo a profissionais como contabilistas, agentes funerários, advogados, médicos e outros profissionais de saúde. Esta discussão, assim como a burocracia envolvida, pode parecer avassaladora, mas muitos recursos disponíveis para ajudar. Resolver estas questões atempadamente pode também proporcionar paz de espírito.

criação de uma rede de apoio, composta por amigos e familiares, mas também por vizinhos e outras formas de suporte comunitário, é igualmente uma importante fonte de ajuda prática. Alguém com um diagnóstico terminal pode ter dificuldade em lidar com os afazeres do dia a dia, mas continua a precisar de lavar roupa, fazer compras, entre outras tarefas que se tornam mais fáceis com ajuda de outros. Nos casos em que o recurso a ajuda profissional seja possível, contratar alguém para ajudar na limpeza da casa e na preparação das refeições pode proporcionar um conforto adicional no tempo que resta, libertando tempo e energia para que a pessoa em condição terminal possa estar com as pessoas de quem mais gosta. 

 

Conclusão 

 

É inevitável que, ao longo da vida, tenhamos experiências com a morte. Contudo, nem todos experienciamos a morte e o luto da mesma forma. Esta experiência individual pode até mudar com o envelhecimento, à medida que nos confrontamos cada vez mais com a morte de familiares e amigos.

É importante manter presente, ainda assim, que experiências comuns à morte que todos atravessamosaspetos emocionais, espirituais e físicos – que são simultaneamente moldados pelas nossas crenças e vivências. muitas circunstâncias associadas à morte que não podemos controlar, mas elementos do processo de morrer (ou de cuidar de alguém em fase terminal) que beneficiam de algum planeamento, ajudando a tornar mais suportáveis estas diferentes experiências. Discutir as preferências para os cuidados de fim de vida ou procurar apoio espiritual são possíveis formas de nos capacitarmos para enfrentar a morte de forma aberta e honesta.

Quer esteja a enfrentar a sua própria mortalidade ou a cuidar de um ente querido que está a morrer, é igualmente importante lembrar que não tem de o fazer sozinho. Amigos e familiares, grupos de apoio, comunidades religiosas e prestadores de cuidados de saúde podem oferecer recursos e apoio. 

 

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